Com tecnologia, investimento e normatização mais rigorosa,
produto ocupa cada vez mais espaço no mercado, aponta presidente da
BlocoBrasil
Por: Altair Santos
Essenciais à alvenaria, os tijolos precisam atender a itens básicos, como resistência mecânica, peso, absorção de umidade, características de isolamento e condução térmica, além de se adequarem aos tipos de superfície e à compatibilidade com o acabamento, seja pintura, revestimento com argamassa ou outro material. Atualmente, dois produtos atendem com mais eficácia a esses requisitos: os blocos cerâmicos, popularmente conhecidos como tijolos de barro, e os blocos de concreto.
Blocos de concreto: presente em 95% das paredes estruturais.
Hoje, eles disputam o mercado praticamente em condições de igualdade,
apesar de os tijolos cerâmicos ainda dominarem uma fatia maior. Não por
muito tempo, estima o arquiteto Carlos Alberto Tauil, presidente da
BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto).
Na entrevista a seguir, ele expõe as razões pelas quais os blocos de
concreto já dominam as obras industriais e têm conseguido quebrar
preconceitos relacionados às obras residenciais. Confira:
Comparando blocos de concreto aos de tijolos, quais as vantagens e desvantagens de usar um ou outro em uma obra?
No caso do bloco cerâmico (tijolo), existem vários tipos, mas, apesar de
a fabricação seguir normas da ABNT, o produto final é irregular. Então,
ele exige uma camada de revestimento muito grande. Aí é que o bloco de
concreto, falando em alvenaria de vedação, leva
vantagem. Ele tem medidas com tolerâncias muito pequenas, o que permite
uma redução acentuada na aplicação de revestimento em relação ao tijolo
cerâmico. É por esse motivo também que, no caso das paredes em alvenaria estrutural, a maioria das obras opta pelo bloco de concreto.
Em percentual, qual o espaço que cada um ocupa na construção civil brasileira?
Na Grande São Paulo, incluindo capital e região metropolitana, e onde a
BlocoBrasil tem um mapeamento do consumo destes dois materiais, é mais
ou menos 50% a 50%. Isso falando em paredes de vedação. No caso de
parede estrutural, como disse, o bloco de concreto já ocupa 95%. Ainda
em se tratando de parede vedação, o uso de tijolo cerâmico
e de bloco de concreto varia de região para região. No Norte e no
Nordeste do país, o cerâmico está presente em 90% das obras. No Sul,
também é muito utilizado o bloco cerâmico, mas o de concreto já ocupa
uma boa parcela. Diria que hoje o uso está em torno de 60% cerâmico e
40% concreto.
Carlos Alberto Tauil: no Sul, bloco de concreto já detém cerca de 40% do mercado.
Por que para as obras industriais o bloco de concreto é mais eficiente?
Os blocos de concreto são mais eficientes para obras industriais, por
que, além de ter mais resistência, normalmente são paredes grandes em
que eles são deixados aparentes e simplesmente pintados, dispensando o
custo com camadas de revestimento.
É possível bloco de concreto e bloco cerâmico conviverem em harmonia numa obra?
Não é recomendável. O que é utilizado muitas vezes é a elevação com
bloco de concreto e o revestimento externo com tijolinho comum. São plaquetas de tijolo
que são usadas como acabamento de aparência. Daí, a parte interna da
parede em bloco de concreto recebe o gesso aplicado diretamente.
Qual mercado hoje é o mais aquecido: o que vende bloco de concreto ou que vende tijolo?
O bloco cerâmico é encontrado em mais pontos de venda do que o bloco de
concreto. Por isso, ele ainda é a primeira opção para o chamado consumo
formiguinha. Agora, quando o construtor quer realmente tirar partido da
economia ele utiliza o bloco de concreto pela vantagem que tem na
redução das camadas de revestimento. Então, no Brasil, o bloco cerâmico
ainda vende mais, mas o bloco de concreto tem recebido muitos
investimentos. Novas empresas têm surgido, a produção aumentou e,
consequentemente, os pontos de venda também.
Há termo comparativo de preço: qual é mais barato?
Bloco por bloco, o cerâmico é mais barato. Parede por parede, a parede
com bloco de concreto é mais barata pelo fator revestimento.
Em termos de aprimoramento do material, o que se tem hoje de avanço para o bloco de concreto e para o tijolo?
O bloco de concreto tem um desenho que há muitos anos é utilizado e tem
uma modulação e uma norma consolidada. Agora, os blocos cerâmicos
passaram a imitar as dimensões dos blocos de concreto, principalmente
para projetos de alvenaria estrutural, onde a vedação é feita com mais eficiência com blocos de concreto.
Para regiões mais frias do país, por questões de isolamento térmico, o tijolo ainda ocupa mais espaço nas obras ou não?
Se o revestimento externo for realizado com 2,5cm de argamassa e o
revestimento interno com gesso, o comportamento térmico entre uma parede
com bloco de concreto e uma com bloco cerâmico é praticamente o mesmo.
Agora, se não houver revestimento, de fato o bloco cerâmico conduz o
calor mais lentamente do que o bloco de concreto.
Em termos de sustentabilidade, qual dos dois materiais é o que causa menos impacto ambiental?
O bloco de cerâmica depende do barro, que é extraído de terra boa. São
terras que normalmente seriam utilizadas para o plantio. Alguns países,
como a China, já restringem o bloco cerâmico, pois eles prejudicam áreas
aráveis. Sob este aspecto, os danos para a natureza são menores quando
se opta pelo bloco de concreto, que depende do cimento, que não usa
terra, mas tem como elemento básico a rocha.
Algumas pesquisas começam a testar, por exemplo, materiais
como entulhos de construção e até papel de sacos de cimento para
produzir tijolos e blocos. Qual a eficiência destes produtos?
A eficiência ainda não é comprovada quando se agregam materiais
recicláveis. Agora, a dificuldade maior é industrializar isso, obter
volume suficiente para manter uma linha de produção. Outra questão é a
qualidade do produto. No caso do bloco cerâmico, a argila é selecionada,
assim como no do bloco de concreto, em que os agregados, a granulometria e a qualidade do cimento são rigorosamente inspecionados.
Entrevistado
Carlos Alberto Tauil, secretário-executivo da
BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto) e
especialista em construção industrializada
Currículo
- Arquiteto formado pela FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ) – 1967
- Fez curso de extensão universitária no BOWCENTRUM de Roterdã- Holanda -1971
- Atuou em pesquisa sobre metodologia de projeto com o grupo SAR da
Universidade de Eindhoven, utilizando a coordenação modular-1971
- Introduziu o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural na Cohab-SP em 1976
- Co-autor dos livros: Alvenaria Armada- 1981 e Alvenaria Estrutural – 2009, da Editora Pini
- Proferiu ao longo da carreira profissional centenas de palestras sobre Alvenaria Estrutural por todo Brasil e Estados Unidos.
Contato
Email: carlosalberto.tauil@gmail.com
Créditos:
Divulgação/ BlocoBrasil
Carlos Alberto/Secom MG
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330